Liberdade Expressão
2 de dezembro
02:05 - São Vicente. Acordei à uma da manhã, no dia 25 de novembro. Aproximava-se a chegada a São Vicente!
Entre a uma e as duas da manhã, fomos vendo, cada vez mais próximas, enormes montanhas que tapavam as luzes de uma cidade, que mais tarde percebemos ser o Mindelo. Às 02:05 atracámos, perto do porto.
Estava escuro, não conseguia ver a cidade nem a ilha. Estava entusiasmada, expectante por acordar no dia seguinte, sair do barco, ver e conhecer!
Depois da grande limpeza tivemos tempo livre. Saí do barco num pequeno grupo de três, eu e outras duas sassers. Começámos a andar, sem rumo definido. O rumo não eram os 225 graus habituais, ou 280. Andávamos, sem destino, a olhar à volta e absorver o que víamos e não conhecíamos.
Vimos no outro lado da extensa rua que acompanha a Marina de São Vicente um sinal de “FREE WIFI”, em letras maiúsculas, que ocupava um terço da janela do Café Del Mar. Ao contrário de Tenerife, em Cabo Verde as telecomunicações com Portugal são bastante caras. Fomos automaticamente atraídas pela ideia de falar com família, amigos e casa.
A caminho do pequeno Café Del Mar fomos interrompidas por uma intensa música! Vinha de dentro de uma espécie de armazém. Havia uma porta aberta. Decidimos aproveitar!
Entrámos e o espanto foi imediato. A ensurdecedora música vinha de dois tambores. Dois homens, dois tambores. Olhámos à volta e percebemos que o espaço era de reunião de um grupo de capoeira! “Associação de Capoeira – Liberdade Expressão, Professor Djé”.
Enquanto apreciávamos o espaço, simples e amplo, e a música, entrou na grande sala um grupo de alemães. Formou-se, de um minuto para outro, uma espécie de anfiteatro à volta de um grande círculo. No centro estavam os praticantes da modalidade, oito homens, uma mulher, uma jovem rapariga e um rapaz bastante mais novo do que todos os outros. O que os unia era a alegria que todos inspiravam e expiravam.
Decidimos colarmo-nos ao grande grupo. Sentámo-nos no chão, perto do círculo.
O líder do grupo deu início à sessão. Explicou o que faziam. São um grupo de capoeira, dão aulas semanalmente, a crianças e adultos. Em simultâneo tem um fantástico projeto na ilha. Vão buscar crianças às ruas de São Vicente, aos recantos mais pobres da ilha, e trazem-nos para tardes criativas. Procuram promover uma ou duas horas em que livremente todos os sentimentos e emoções podem ser exprimidos. Utilizam como veículo a expressão corporal livre, dança e construção de instrumentos.
A energia que preenchia a sala era de tranquilidade, alegria, proximidade e descontração. Enquanto dançavam, tocavam e cantavam tudo parecia 100% espontâneo, sem limites ou barreiras aos movimentos. Fomos chamadas para dançar e contaminada por toda a atmosfera, diverti-me verdadeiramente. Foi mesmo fantástico!
No fim de todo o espetáculo, conversei com um dos líderes que nos convidou, aos 34 alunos do Regina Maris, para uma aula de capoeira! A última aula era hoje, sexta-feira, não conseguimos lá ir mas fiquei com o contacto do grupo e numa próxima ida a Cabo Verde, volto lá com certeza!
Quando saímos da capoeira, uma senhora velhota abordou-nos. Pediu-nos comida ou dinheiro e para tirarmos uma fotografia com o cachimbo que carregava à cintura. Foram momentos estranhos. Vi pobreza, mas ao mesmo tempo sorrisos indescritivelmente próximos e queridos.
Desde o primeiro dia em Cabo Verde, senti nas pessoas uma proximidade e simpatia única, quase mágica.
Mimi at Sea