top of page

As viagens


13 de março de 2017

Poderia verificar, mas não sei se será necessário. Poderia verificar, mas creio que nada mudaria. Poderia verificar num dicionário, mas sei que a minha definição de “viagem”, ou de “viajar”, não mudaria. Uma viagem é uma saída. Não necessariamente saída associada a escape mas saída como consequência direta de “sair”. Viajar é sair, entrar numa realidade que, por uma determinada razão, é diferente da nossa. No mundo da literatura, dos sonhos, dos mares, comboios ou aviões ... viagens têm um valor fascinantemente único e importante.

Acima de muitas outras propriedades, viajar é não nos deixarmos cair na mera existência e tomarmos as rédeas, garantirmos que vivemos. Viver traz conhecimento, questões e reflecção, uma espécie de portas que abrem outras, antes admitidas como paredes.

É-me difícil não referir San Blas, um arquipélago do Panamá onde conheci uma realidade completamente distinta de qualquer outra. Conheci a cultura Kuna e conheci um símbolo que me abriu os olhos para o mundo. Um símbolo que quando o vi a primeira vez pensei ser a cruz suástica, associado a dor, sofrimento e ódio. Na realidade era um símbolo que representa quatro animais. Um símbolo que representa a ligação à natureza, a pureza do mundo instintivo e natural … isto foi um símbolo, uma representação gráfica que me fez questionar e conhecer “este mundo e o outro”.

É possível olhar e tocar no valor das viagens no instante em que olhamos para nós próprios. A atmosfera do “eu” é algo de incrível, uma espécie de reunião entre o contexto onde nos inserimos - na família, escola, amigos e, de forma mais abrangente, sociedade –, a biologia e a genética que acabam por se fundir com a “memória social”. Parte do “eu” é o mundo abstrato, os preconceitos, pressupostos e dúvidas.

É possível olhar e tocar no valor das viagens no instante em que olhamos para nós próprios porque as viagens, a novidade, as pessoas, a diferença, a igualdade, a cultura e a justiça explodem ou rebentam a bolha que nós somos. Um caso concreto é o necessário confronto com o nosso “eu” quando conhecemos humanos, outros “eus”, que de uma forma completamente distinta pensam. Analisamos vertentes, caraterísticas que nos constroem, talvez antes traços enublados se transformem nesse momento em traços predominantes, verdades seguras em questões prioritárias. Comportamentos habituais em atitudes estranhas.

Viajar é poder mudar. Viajar é conhecer o que antes não existia. Viajar é ser ultrapassado e desafiado, mas conquistar e atingir em simultâneo. Viajar é assegurar que o arco iris muda de cores, que a lua brilhante é sentida, que a rotina não estagna. Viajar é viver emoções fortes. Viajar é ultrapassar a existência e garantir que vivemos. Viajar é conhecer, poder, sentir, pensar, viver, olhar e ver, sair e entrar, encontrar, perder e ganhar, questionar. Viajar é ser e estar.

Mimi at sea


Posts Em Destaque
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page