As minhas casas

Horta, 20 de março

No dia 19 de março, no meu turno, avistámos às 11:30 o Pico, às 12:00 o Faial e às 13:00 baleias.

No dia 20 de março acordaram-me às 06:30, para o nascer do Sol, depois de uma volta ao Faial.

Estávamos no meio do canal Faial-Pico. Às 07:00 rumavamos ao Faial, céu pintado de nevoeiro cinzento. Às 07:30, tentava, entre as cores e vida da Avenida, distinguir as paredes verdes da minha casa.

Às 08:00 chegámos. Abracei a minha família e amigos! Pisei o chão da Marina da Horta! Chegámos a casa!

Tomámos o pequeno-almoço no barco, limpámos e saímos todos. Não telefonei à minha família, estive com a minha família!

Fui almoçar a casa com amigos do barco, vivi os dois mundos em simultâneo, fiquei em casa durante a tarde, tomei duche em casa, jantei em casa e dormi em casa.

Em casa, não sabia onde estavam os panos de cozinha, guardanapos ou individuais. Em casa, à mesa com os meus pais, irmãos e Xica, pareceu que nunca me tinha ido embora. Depois de um dia de escola, jantámos todos juntos, contámos uns aos outros como foram os dias respetivos, enquanto a Xica ressonava, deitada num dos cantos da sala. O Beco foi para a cama mais cedo, eu dei-lhe um beijinho de boa noite e continuámos na sala a conversar.

Foi tudo o mesmo mas totalmente diferente.

Tomei um duche de 5 minutos, apercebi-me que mais do que isso já não faz sentido, vesti roupa lavada, olhei para o canal, comi crumble de maçã cozinhado pela minha mãe, tarte de legumes feita pelo meu pai. Bebi água em copos de vidro, usei guardanapos à mesa e dormi na minha cama, que é duas vezes maior que a minha cama.

Vivi durante 20 horas na minha casa e fui visitante no meu sítio, com as minhas pessoas e na minha que não é minha, rotina. Fui visitante e quando saí de casa, para voltar para casa percebi que esta segunda casa é mesmo casa. Esta segunda casa é minha e é completamente diferente da primeira.